sábado, 19 de junho de 2010

José Saramago

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Ontem, 18 de junho de 2010, morreu o escritor português José Saramago. Havia tomado o café com  a esposa minutos antes, e os dois estavam conversando, em casa. Um momento como tantos outros, trivial, familiar, corriqueiro. Mas 18 de junho não foi um dia como todos os outros. Não o foi para Pilar, a esposa, e não o foi para a Literatura.

Imagino a palavra cortada, o sobressalto  da mulher, o suspiro. De repente, a morte. O mundo perdeu um grande homem. A língua portuguesa, um mestre!

Como disse António García Barreto, "agora há unanimidade quanto a José Saramago. Toda a gente diz que ele morreu. E é verdade." 

Mas, enquanto viveu, Saramago despertou  antipatia por suas declarações polêmicas e  sua escrita ácida, cortante, dirigida muitas vezes às religiões, sobretudo às grandes instituições religiosas – em particular, a Igreja Católica.

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É que ele celebrava a vida, e no mundo há muita gente que deprecia a vida, que se apraz em fazer da existência uma experiência ruim, para si e para os outros, “em nome  da fé.”

Saramago sempre foi o contrário disso. Ateu, talvez se pudesse dizer que sua fé era na própria vida e nos homens. Comunista,  republicano também, defensor extremado da democracia, criticava ferozmente a globalização, em que as decisões políticas são tomadas na esfera das “grandes relações financeiras internacionais”.

Homem das letras, Saramago era dono de um estilo singular de escrita, com períodos longuíssimos de quase uma página e sem usar o travessão marcando a fala direta dos personagens. Quanto ao Acordo Ortográfico, criticava a demora de seu país em adotar oficialmente o que no papel e em outros países-irmãos já era uma realidade, e reconhecia que revolução linguística autêntica fora a Reforma de 1911.

Mecânico de automóveis na juventude, o homem que chegou a Nobel de Literatura em 1998 nunca aprenderia a dirigir. Ficou traumatizado por, certa vez, cometer um erro  tolo, porém inaceitável na sua condição de entendedor.  Um dia escreveu, sobre ser escritor: “É um ofício em que somos ao mesmo tempo motor, água, volante, mudanças de velocidade e tubo de escape. Talvez, afinal, o trauma tenha valido a pena”.

Tenha a certeza de que sim, Saramago.

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Consulta: terra.com.br; uol.com.br; angoladigital.net; caderno.josesaramago.org